O ecumenismo religioso e o jugo desigual

Conquanto pregadores e ensinadores comumente usem o termo “jugo desigual” para se referirem ao casamento misto, o sentido da mensagem contida em 2 Coríntios 6.14-18 é muito mais amplo e abarca todos e quaisquer tipos de comunhão com os incrédulos. Daí o apóstolo Paulo, ao discorrer sobre tal associação com o mundo, ter perguntado aos crentes de Corinto e a nós, por extensão: “que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?”


Há alguns anos, um famoso cantor evangélico brasileiro — conhecido como um dos pioneiros do estilo “louvor e adoração” — participou da Jornada Mundial da Juventude, um megaevento romanista que contou com a presença do papa. Teria esse cantor tomado parte com o infiel ou comungado com as trevas? Podemos chamar toda e qualquer reunião entre católicos e evangélicos de mistura entre o santo e o profano? Qual é a resposta bíblica ao culto ecumênico, que se torna cada vez mais comum, nesses tempos pós-modernos, a ponto de cantores evangélicos e padres serem convidados para “louvarem” juntos em programas de televisão?


Quem defende a participação de cantores e grupos gospel em eventos religiosos não-evangélicos geralmente vale-se de um subterfúgio: “Há uma grande diferença entre a convivência ecumênica e o sincretismo religioso”. Os adeptos do ecumenismo afirmam que um cantor, ao participar de um evento ecumênico, está apenas louvando a Jesus Cristo, não havendo motivo algum para reprovarmos sua conduta. À luz de Atos 17, podemos ampliar o assunto e enfocar também a pregação. Se o apóstolo Paulo pregou o Evangelho em Atenas diante de vários religiosos, por que um pregador — caso seja convidado a participar de um evento católico — deveria desprezar a oportunidade de anunciar que Jesus Cristo é o Mediador, o Senhor e o Redentor, o único que pode dar ao homem a verdadeira paz?


Jesus não veio ao mundo para pregar uma convivência ecumênica ou promover uma união de paz entre as religiões, por mais intolerante e “politicamente incorreto” que isso possa parecer. Ele apresentou-se como a única porta para a salvação da humanidade (Jo 10.9), isto é, o único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5). Aliás, houve um tempo em que o ecumenismo religioso era considerado um grande perigo para as igrejas protestantes. A maioria dos pastores verberava contra ele. E qualquer comunhão ecumênica entre evangélicos, católicos e espíritas era inimaginável, em razão de os líderes eclesiásticos, à época, estarem atentos às estratégias do Inimigo que visam a enfraquecer a contundente mensagem de arrependimento. Por que o romanismo, que sempre foi criticado por se opor ao aborto e ao homossexualismo, de uns tempos para cá resolveu suavizar seu discurso?


Bento XVI foi duramente criticado em razão de ter atacado o aborto, o “casamento gay” e a eutanásia. Em um de seus discursos, ele afirmou: “Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana e, em consequência, defendem, por exemplo, a liberação do aborto, talvez não percebam que, deste modo, propõem a busca de uma paz ilusória. […] A morte de um ser inerme e inocente nunca poderá trazer felicidade ou paz. […] Quem quer a paz não pode tolerar atentados e delitos contra a vida” (G1, portal de notícias da Rede Globo, 14/12/2012). Entretanto, o papa Francisco tem preferido a neutralidade. Por quê? Para não incomodar o pecador.


Quando veio ao Brasil, Francisco não quis verberar contra o aborto e o “casamento gay”. Ele alegou que a Igreja já se expressara perfeitamente sobre isso. A bordo do avião, voltando a Roma, o pontífice declarou: “não queria voltar [a falar] sobre isso. Não era necessário, como também não falei sobre outros assuntos. Eu também não falei sobre o roubo, sobre a mentira. Para isso, a Igreja tem uma doutrina clara. Queria falar de coisas positivas, que abrem caminho aos jovens. Além disso, os jovens sabem perfeitamente qual a posição da igreja” (portal da CNBB, notícias, 29/7/2013). O romanismo está, por assim dizer, promovendo uma falsa paz, ilusória, baseada naquilo que as pessoas querem ouvir, e não naquilo que elas precisam ouvir. E muitos expoentes evangélicos, sem discernimento espiritual, estão adotando essa mesma conduta.


Tenho visto muitos incautos felizes pelo fato de celebridades gospel estarem aparecendo na grande mídia e participando de eventos do romanismo. Eles, talvez, não saibam que existe um projeto ecumênico em andamento, o qual visa a enfraquecer a “antipática e intolerante” pregação de que Jesus é o único Salvador. Tais celebridades — orientadas, clara ou tacitamente, a não falar do Evangelho — têm empregado bordões antropocêntricos, que massageiam o ego das pessoas. Elas não têm a coragem de confrontar o pecado. E apresentam um evangelho light, agradável, apaziguador, simpático, suave, aberto ao ecumenismo.


A comunhão entre padres midiáticos e celebridades gospel é tão boa que estas até fornecem composições àqueles. Uma famosa cantora gospel, inclusive, fez uma canção dedicada a Maria. Juntos, católicos e evangélicos participam de shows ecumênicos e programas de auditório. “O que nos une é muito maior do que o que nos divide”, afirmam. Há pouco tempo, uma conhecida cantora admitiu que o sincretismo religioso é aceitável, ao concordar com a seguinte frase, dita por um famoso apresentador: “O Caldeirão é uma mistura de religiões”. Ao deixar o palco do programa saltitante e sorridente, deslumbrada, escreveu nas redes sociais que se sentira como Paulo no Areópago. Ora, esse apóstolo, ali, pregou o Evangelho. Ele não teve uma conduta “politicamente correta”, tampouco apresentou a mensagem que os atenienses queriam ouvir. Paulo disse o que todos precisavam ouvir, posto que “o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria” (At 17.16).


Embora o Senhor Jesus tenha afirmado: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6), está crescendo no evangelicalismo brasileiro a simpatia pelo movimento ecumênico. Já ouço muitos pastores e cantores dizendo: “A doutrina bíblica divide. É o amor que nos une. O mundo precisa de paz, e nós temos de nos unir e buscar uma convivência pacífica; o que nos une é muito mais forte”. Nos Estados Unidos, pastores renomados deixaram de falar de Jesus com clareza. Pregam sobre Deus de maneira geral, a fim de não ofenderem católicos, muçulmanos, budistas, etc. Em breve, eles vão parar de falar de Deus para não ofender os ateus…


O ecumenismo aparenta ser um bom caminho, em razão de pregar a tolerância à diversidade religiosa e a oposição a quem defende uma verdade exclusiva. No entanto, isso tem como objetivo calar os pregadores da Palavra de Deus. O ecumenismo se baseia no princípio “democrático” de que cada pessoa deve guardar a sua verdade contundente para si e prioriza, supostamente, o amor ao próximo e as “verdades” inofensivas. Lembremo-nos de que o Senhor Jesus asseverou que não existe unidade motivada pelo amor divorciada da verdade da Palavra: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. […] Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo 14.15-24).


Ciro Sanches Zibordi

Fonte:  CPADNews | Ciros Sanches Zibordi (04/06/2015).

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